sexta-feira, 10 de junho de 2011

Na época da lancheira

Esses dias, falando sobre educação alimentar, veio-me na memória a doce recordação da hora do recreio (no meu tempo de escola), hoje denominado intervalo. Era o momento mágico para encontrar os coleguinhas, falar das novidades, comentar sobre algo que passou na televisão e o mais importante de todos, saborear o meu lanche, preparado com todo carinho por minha mãe.

Tive várias lancheiras, mas a minha preferida era uma amarelinha, em formato de maletinha, dos Ursinhos Carinhosos. Nessa lancheira eu sempre levava lanches diferentes: suco de maracujá com biscoito cream-cracker recheado com queijo tipo requeijão e goiabada; ou suco de goiaba com sanduíche de queijo e presunto; ou suco de caju com bolo simples; ou ainda, 1 copo de iogurte de morango ou ninho de frutas com biscoito de maisena... raramente, levava refrigerante ou algo mais calórico. Como estudei em colégio de freiras durante todo o meu fundamental I, lembro-me que até a primeira série (hoje, 2º ano) tinha a sopinha de verduras no final tarde, eu não gostava muito, mas tomava mesmo assim, diziam que fazia bem e eu aprendia na escola a importância das verduras e legumes para o nosso organismo. E como antes do lanche cantávamos algumas musiquinhas incentivadoras do tipo:
 
Meu lanchinho, meu lanchinho
Vou comer, vou comer
Prá ficar fortinho,
Prá ficar fortinho
E crescer! E crescer!

Ou

Come, come,
pra ficar mais forte
e inteligente,
Come, come,
Pra mamãe ficar contente...

Comíamos tudo, porque além disso, diziam-nos que quem comia toda a comidinha não ficava doente, e eu tinha pavor de ficar doente. Mas quando eu ficava, pensava logo: fiquei doente porque não comi tudo que devia, aí dependendo do que era: gripe ou garganta, pedia a minha mãe suco de cenoura com beterraba e laranja, detestava o sabor, mas bebia tudo fazendo careta, no intuito de melhorar rapidinho. Naquela época também (década de 80) a televisão já fazia das suas bombardeando-nos com comerciais que estimulavam o consumismo exagerado dos produtos não muito saudáveis.


Até hoje me lembro do CHOKITO – leite condensado, caramelizado, coberto com flocos crocantes e recheado com um delicioso chocolate nestlé. Ah, o comercial do chocolate BATON da Garoto, tinha uma menina com uma toalha na cabeça, sentada segurando um chocolate Baton pendurado a um fio, em gesto de hipnotizadora. Diz: "Amiga dona-de-casa, olhe fixamente nesse delicioso chocolate. Toda vez que a senhora sair de casa com seu filho, vai ouvir minha voz dizendo: ‘Compre Baton. Compre Baton. Seu filho merece Baton.’ Agora a senhora vai acordar." Ela estala os dedos e continua dizendo: "...mas vai continuar ouvindo minha voz: Compre Baton...". O locutor então diz: "Baton. O chocolate da Garoto que não sai da boca, nem da cabeça." A publicidade utiliza-se de jingles repetitivos que provoca no receptor (telespectador) a vontade de consumir e comprar cada vez mais aquele determinado produto. Isso continua até hoje a única diferença está no posicionamento da família, antigamente estava mais presente, apresentava-se como a base de nossos valores. O que a família falava era lei, hoje a família não tem mais tempo de ser família.
Os fast-foods dominam o mercado alimentício das pessoas que não possuem mais tempo para se alimentarem direito. Dessa forma: sanduíches, pizzas, pastéis, refrigerantes, milk shakes, lideram o ranking dos alimentos ultra calóricos da alimentação base das pessoas no mundo todo. As maiores vítimas são as crianças que passam a consumir cada vez mais cedo alimentos ricos em gorduras e açúcares. Então eu pergunto: cadê a reunião familiar que costumava acontecer durante as refeições diárias (almoço e janta)? Esse momento foi extinto! Hoje crianças almoçam de frente para a televisão ou em frente ao computador, a família não interage mais, cada um ocupa o seu espaço, a individualidade impera, os valores sofreram uma inversão gritante.
Alimentar-se de forma saudável, nos dias de hoje é um achado! Precisamos criar diversas estratégias para que possamos recuperar o que foi perdido através das gerações. Que bom seria poder voltar no tempo e resgatar o uso da lancheira com a “merenda” feita pela mamãe!

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